" A transformação de vidas através da Gestão de Pessoas e Desenvolvimento Humano."

26 de março de 2013

Gestão por Competência - Empresa Humana Ou Humano Empresa ?



Valorizar as pessoas tornou-se palavra de ordem do mundo corporativo, repetida à exaustão por executivos, consultores de RH e gurus de plantão. “Empresas humanas” – expressão pela qual vêm sendo chamadas as organizações que valorizam seus funcionários e os colocam no centro das preocupações de gestão – estão decididamente na moda.
Por um lado, é inegável que existe por trás disso um novo princípio organizador das práticas administrativas, elevando o ser humano, de fato, a elemento central do processo de geração de valor econômico. Por outro lado, o discurso de que isso levaria as empresas a se tornarem mais “humanas” não é verdadeiro.
Ao contrário do que prega tal discurso, essas novas práticas administrativas tendem a piorar, em vez de melhorar, as condições de trabalho e o bem-estar e dignidade das pessoas.
Certa vez li em um livro sobre retenção de talentos.  Havia um texto que anunciava uma importante mudança, a partir de uma nova concepção sobre as pessoas na organização: em vez de um recurso que se consome com o tempo e precisa ser reposto periodicamente, elas passariam a ser vistas como um capital a ser valorizado, por constituir o núcleo gerador de valor das empresas.
A lógica da “empresa humana” estava claramente estabelecida ali. Juntamente com uma crítica às concepções tradicionais de recursos humanos, esse discurso trazia embutida uma nova visão do ser humano na organização, atribuindo-lhe uma postura muito mais ativa e participativa no processo de geração de valor, em que qualidades como criatividade, comunicabilidade, afetividade, iniciativa e capacidade de decidir são valorizadas.
Dado que essas qualidades são inseparáveis do trabalhador e não podem ser produzidas diretamente pela empresa, os seres humanos passam a ser vistos como elementos estratégicos de formação de capital. As empresas passam assim a valorizar as pessoas como seus principais ativos, e com isso a visão tradicional dos recursos humanos é substituída pela de “capital humano”.
A noção de capital humano não é, contudo, uma invenção da Administração. A ideia original é a de que, do ponto de vista do trabalhador, o salário é um rendimento.
Como o capital é identificado a tudo aquilo que é fonte de rendimento, no caso do trabalhador o capital é inseparável das competências do próprio indivíduo. O investimento em capital pode ser concebido como o próprio desenvolvimento das aptidões pessoais, incluindo assim no cálculo econômico uma série de esferas da vida que até então lhe escapavam, como a das relações pessoais, dos afetos familiares, dos cuidados de saúde etc.
Nessa ótica, a valorização das pessoas pela empresa está ligada à passagem entre essas duas visões do trabalhador: como recurso e como capital.
A partir dessa nova visão, as empresas desenvolvem novos dispositivos de poder para gerir o trabalhador como um capital. As velhas técnicas disciplinares, dedicadas a vigiar e punir os recursos humanos, não são mais suficientes para garantir o controle sobre o trabalho. Implicando cada vez mais as qualidades inseparáveis dos seres humanos e dependendo parcialmente de sua iniciativa pessoal para a organização coletiva da produção de bens e serviços, torna-se cada vez mais necessário contar com a boa vontade do trabalhador, obtendo seu engajamento.
Em vez de impor o modo e o ritmo de execução de tarefas rotineiras e degradantes, trata-se agora de prescrever uma nova forma de subjetividade, de modo a produzir adesão aos objetivos corporativos.
Fonte e Pesquisa : Daniel Pereira de Andrade.

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