Creio que de forma alguma estou desfocando da proposta do Blog. Na minha opinião, o impacto do atual momento social em que o Brasil na economia e consequentemente nas organizações estão 'a olhos vistos".
Duas questões são inevitáveis para uma coluna de economia num momento conturbado como este de manifestações: o que há de economia na insatisfação coletiva e como os protestos afetam a economia. Primeiro, é preciso explicar o que não é: a disparada do dólar não é efeito direto da situação brasileira. Ocorre no mundo inteiro. Mas sobe mais no Brasil.
Duas questões são inevitáveis para uma coluna de economia num momento conturbado como este de manifestações: o que há de economia na insatisfação coletiva e como os protestos afetam a economia. Primeiro, é preciso explicar o que não é: a disparada do dólar não é efeito direto da situação brasileira. Ocorre no mundo inteiro. Mas sobe mais no Brasil.
O dólar ontem caiu, depois de cinco
altas, mas a valorização maior da moeda americana nos últimos dias no Brasil é
efeito das incertezas sobre o país, e uma delas é o déficit externo, que chegou
a 3,2% do PIB. A eclosão de manifestações é só mais uma razão para o dólar
subir, mas não a mais importante. O que há é uma realocação global do capital
dos investidores após o pronunciamento do Fed. O presidente do banco central
americano, Ben Bernanke, fez um pronunciamento otimista sobre a economia
americana e isso elevou a aposta no dólar. Ele subiu frente à maioria das
moedas do mundo.
O Banco Central brasileiro já sabia
que aconteceria essa nova postura da política monetária americana. Mas não
achava que a desvalorização da moeda brasileira seria tão forte e acreditava
que a alta do dólar não afetaria a inflação.
Já está afetando a inflação e criando
outras distorções. Empresas que se endividaram recentemente em dólar, e já
tinham dívidas altas em moeda estrangeira, estão com um custo financeiro maior,
como a Petrobras. Quando o dólar sobe, o custo de importar combustíveis fica
mais alto. A desvalorização alimenta a elevação dos preços. E a inflação é uma
das causas da insatisfação popular. O movimento é circular.
Há muito de economia no movimento que
levou brasileiros às ruas, mas essa não é a única fonte de insatisfação. A
inflação tirou renda das famílias, que já está muito comprometida com o
pagamento das dívidas; e o país não cresce. A perspectiva é de inflação alta e
juros subindo e encarecendo as dívidas. A sensação de ascensão social, que
vinha encantando milhões de famílias, encontrou nessa combinação uma barreira.
O efeito das manifestações na economia
é mais lento. Se os protestos continuarem por muito tempo, há um preço
econômico: empresas fecham mais cedo e produzem menos nos dias de passeata,
como na quinta-feira, entregas atrasam, eventos são cancelados, investimentos
começam a ir para a gaveta à espera de mais previsibilidade, capitais procuram
portos mais seguros. As empresas detestam ambiente fluido. Mas qualquer um é
capaz de separar o que são movimentos eventuais de protesto — mesmo que em
alguns casos haja episódios violentos — e o que são países com instabilidade
política e sem instituições fortes. Não é o caso do Brasil, que tem
instituições democráticas sólidas, a despeito da insatisfação que se tenha com
uma ou outra dessas instâncias de poder.
Em resumo: as manifestações não são
culpadas pela disparada do dólar ou queda da bolsa. Há outros fatores
provocando esses efeitos. Eles podem apenas ficar mais agudos. Também não se
pode acusar os movimentos de provocarem danos à economia. Se eles se
prolongarem por muito tempo, com o governo se mostrando incapaz de responder
aos eventos, investimentos podem ser adiados. Por enquanto, o que há é apenas
um acompanhamento da situação.
O problema é que os investidores
brasileiros e estrangeiros querem mais austeridade fiscal. Acham que assim o
país superará o início da crise de confiança que se formou levando ao viés
negativo na classificação de risco. Os manifestantes têm feito reivindicações
que, para serem atendidas, exigirão aumentos de gastos. O governo, ao
distribuir subsídios indiscriminadamente aos setores empresariais, ficou sem
margem de manobra para ampliar os investimentos públicos.
Fonte de Pesquisa: Miriam Leitão.
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