O trabalho organiza nossa vida diária. Define o
tempo e a história humana. E não importa se ele é pago ou voluntário, material
ou espiritual, por conta própria ou para outros. Existimos em trabalho e por
meio do trabalho. Do preparo do campo à construção da casa e das cidades. Da
produção das artes às estruturas políticas, à vida religiosa, às relações
familiares, à educação, à saúde, à cultura...
O trabalho nos revela para os outros e para nós
mesmos. Por meio dele construímos nossa identidade. A partir dele descobrimos
habilidades, poderes, limites, competências, alegrias, tristezas... Criamos
vínculos com as pessoas, com os ambientes, com a cidade e a nação. Por meio
dele entramos em contato com os costumes da sociedade, suas leis, sua moral,
seus anseios e filosofia de vida, e os assimilamos. Nos comprometemos com
causas e uns com os outros. Desenvolvemos interesses, afinidades, finalidades e
metas para nossa vida. E também afinamos sonhos, medos, desejos...
O trabalho é o lugar privilegiado onde descobrimos,
inclusive, para que viemos e do que nos compete cuidar nesta vida.
Todos sabemos que o envolvimento, sobretudo
afetivo, com o trabalho que realizamos é de extrema importância. Esse aspecto,
esquecido pela moderna administração, provoca um distanciamento, uma
desvinculação das pessoas de seu trabalho. Se seu alvo são os resultados, o
trabalho é um mero meio. E se a preocupação com a carreira for o enfoque
principal, tornam-se secundários tanto o que fazem quanto os destinatários de
seu trabalho e a organização em que o realizam.
Mas há alguns ofícios em que esse distanciamento é
impossível. Se esse distanciamento se impuser, o trabalho não acontece. Como o
ofício de professor. Ninguém ensina sem paixão pelo que estuda e pelo próprio
ato de estudar e conhecer, de abrir horizontes e de descobrir possibilidades.
Ninguém ensina sem paixão e envolvimento com o aluno, mesmo aquele que o
desafia e contesta. Ninguém ensina sem estar seduzido pela sua cidade, seu
país, o planeta e o universo, por seu tempo e sua história... Ninguém ensina se
não fizer da escola sua própria casa.
Perder o trabalho é como perder a morada ? Perder a
razão que justifica nossa existência ? Sair de cena, é ser exilado, é deixar de
participar, com outros, da beleza do mundo.
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Fonte de Pesquisa: Dulce Critelli.
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