Valorizar as pessoas tornou-se palavra de ordem do
mundo corporativo, repetida à exaustão por executivos, consultores de RH e
gurus de plantão. “Empresas humanas” – expressão pela qual vêm sendo chamadas
as organizações que valorizam seus funcionários e os colocam no centro das
preocupações de gestão – estão decididamente na moda.
Por um lado, é inegável que existe por trás disso
um novo princípio organizador das práticas administrativas, elevando o ser
humano, de fato, a elemento central do processo de geração de valor econômico. Por
outro lado, o discurso de que isso levaria as empresas a se tornarem mais
“humanas” não é verdadeiro.
Ao contrário do que prega tal discurso, essas novas
práticas administrativas tendem a piorar, em vez de melhorar, as condições de
trabalho e o bem-estar e dignidade das pessoas.
Certa vez li em um livro sobre retenção de
talentos. Havia um texto que anunciava
uma importante mudança, a partir de uma nova concepção sobre as pessoas na
organização: em vez de um recurso que se consome com o tempo e precisa ser
reposto periodicamente, elas passariam a ser vistas como um capital a ser
valorizado, por constituir o núcleo gerador de valor das empresas.
A lógica da “empresa humana” estava claramente
estabelecida ali. Juntamente com uma crítica às concepções tradicionais de
recursos humanos, esse discurso trazia embutida uma nova visão do ser humano na
organização, atribuindo-lhe uma postura muito mais ativa e participativa no processo
de geração de valor, em que qualidades como criatividade, comunicabilidade,
afetividade, iniciativa e capacidade de decidir são valorizadas.
Dado que essas qualidades são inseparáveis do
trabalhador e não podem ser produzidas diretamente pela empresa, os seres
humanos passam a ser vistos como elementos estratégicos de formação de capital.
As empresas passam assim a valorizar as pessoas como seus principais ativos, e com
isso a visão tradicional dos recursos humanos é substituída pela de “capital
humano”.
A noção de capital humano não é, contudo, uma
invenção da Administração. A ideia original é a de que, do ponto de vista do
trabalhador, o salário é um rendimento.
Como o capital é identificado a tudo aquilo que é
fonte de rendimento, no caso do trabalhador o capital é inseparável das
competências do próprio indivíduo. O investimento em capital pode ser concebido
como o próprio desenvolvimento das aptidões pessoais, incluindo assim no
cálculo econômico uma série de esferas da vida que até então lhe escapavam,
como a das relações pessoais, dos afetos familiares, dos cuidados de saúde etc.
Nessa ótica, a valorização das pessoas pela empresa
está ligada à passagem entre essas duas visões do trabalhador: como recurso e
como capital.
A partir dessa nova visão, as empresas desenvolvem
novos dispositivos de poder para gerir o trabalhador como um capital. As velhas
técnicas disciplinares, dedicadas a vigiar e punir os recursos humanos, não são
mais suficientes para garantir o controle sobre o trabalho. Implicando cada vez
mais as qualidades inseparáveis dos seres humanos e dependendo parcialmente de
sua iniciativa pessoal para a organização coletiva da produção de bens e
serviços, torna-se cada vez mais necessário contar com a boa vontade do
trabalhador, obtendo seu engajamento.
Em vez de impor o modo e o ritmo de execução de
tarefas rotineiras e degradantes, trata-se agora de prescrever uma nova forma
de subjetividade, de modo a produzir adesão aos objetivos corporativos.
subjetividade = http://www.dicionarioinformal.com.br/subjetividade/
Fonte e Pesquisa : Daniel Pereira de Andrade.
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