Nesse quadro inédito que vivemos,
com os países desenvolvidos em crise e o Brasil crescendo, nossos executivos
certamente estão calculando o quanto devem investir e onde podem cortar custos
para aumentar seus ganhos. Essa tarefa nada fácil está nas mãos de pessoas que
têm a missão de entregar os melhores resultados no curto prazo e de pavimentar
a perpetuação do negócio. O desafio é promover o equilíbrio entre as partes
desse conjunto complexo e conectado, formado pelo mercado, organizações,
pessoas e comunidades.
Não
é novidade que ainda existe uma grande distância entre discurso e prática em
boa parte das organizações brasileiras. Declarar que "as pessoas são o
nosso maior patrimônio" virou um mantra tão batido quanto outro do passado
que dizia "somos todos uma família". Quando a reengenharia chegou, na
década de 1990, reduzindo os quadros em nome de mais eficiência, os
funcionários perceberam a diferença: ninguém expulsa um filho de casa para ter
mais dinheiro ou se adequar a um orçamento menor. E o que mudou nesses 20 anos?
O
vínculo entre as pessoas e as empresas certamente evoluiu para um patamar de
troca profissional, e menos paternal. Mas as organizações necessitam, mais do
que nunca, reter os seus talentos. Afinal, estamos na era do conhecimento, em
que cada indivíduo vale o que sabe, e não mais o volume que produz. E,
especialmente nos mercados em expansão e com novos projetos, contar com pessoas
competentes é o grande desafio. As empresas evoluíram e, hoje, têm investido no
desenvolvimento das capacitações e em diferenciados pacotes de remuneração e
bem-estar. Essas e outras práticas, quando articuladas de forma coerente,
atestam que os investimentos compensam. Além disso, partimos do princípio de
que os funcionários mantidos pela empresa recebem esse tratamento porque fazem
por merecer. Então, por que, ao menor sinal de crise ou diante de uma
"oportunidade" de melhorar seu desempenho financeiro, tantas
organizações ainda cortam pessoas com o mesmo critério com que cortam coisas?
Isso
acontece mesmo em empresas saudáveis financeiramente, onde gestores enxergam
gorduras mesmo onde elas não existem mais. E se justificam com uma crença, que
pode até ser sincera, de que estão viabilizando o futuro da companhia. Mas
estão mesmo? Quando executivos determinam um corte linear de 10% nos custos da
empresa, seja para aumentar a lucratividade desta ou simplesmente para mostrar
números que garantam prestígio e vantagens, onde fica o valor das pessoas, da
inteligência organizacional, da cultura?
Organizações com
executivos competentes, diretrizes claras, azeitadas em termos de processos e
estrutura, dificilmente ficam acima do peso ou com muita gordura para cortar.
Mas, mesmo assim, algumas delas se sentem "gordas". Essa crise de
autoimagem distorcida segue a mesma lógica da anorexia. E, infelizmente, pode
ter também o mesmo destino. O corpo continua emagrecendo até perder a
musculatura, que o sustenta, e a vitalidade. Se esse processo não é revertido,
pode ser tarde demais para reagir, e o desfecho é a morte.
Fonte de Pesquisa: Eliana Frade.
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