Quem
não se lembra do início deste ano, quando o governo anunciou que faria um
grande ajuste fiscal para colocar as suas contas sob controle, mas que seria um
“aperto” passageiro, com previsão de melhora geral já no segundo semestre? Pois
é, não há quem possa se esquecer porque o problema de janeiro e fevereiro
estava subdimensionado. O buraco nas contas do governo da presidente Dilma são
terrivelmente maiores, o segundo semestre está no fim e ninguém consegue prever
um ano razoavelmente melhor em 2016. Ao contrário, se não piorar, certamente
haverá até motivos para comemorar alguma coisa apesar dos pesares.
O
governo colheu e plantou apenas más notícias ao longo deste ano. Começou
elevando as taxas de juros referenciais a patamares elevadíssimos, alterou
alíquotas de impostos, retirou completamente as desonerações fiscais, inclusive
as existentes para baratear o calamitoso custo do emprego, mudou a regra do
seguro desemprego exatamente no momento em que a economia caiu em recessão e
cortou quase completamente as verbas destinadas à saúde, educação e programas
sociais. Nem com esse conjunto de “maldades” as finanças do governo se
equilibraram. Descobriu-se depois que havia esqueletos no armário das contas
públicas na casa dos 50 e poucos bilhões de reais, fruto da gastança
desenfreada do ano passado — coincidentemente, período eleitoral.
Ao
longo dos meses, além dos problemas em sua base de sustentação, que saiu das
urnas fartamente majoritária, as autoridades econômicas também se perderam em
previsões. Chegaram a falar, em tom pessimista, que o superávit primário
esperado para este ano seria equivalente a 0,7% do PIB. Depois, essa previsão
caiu para 0,5%. Agora já se sabe que não haverá superávit coisa nenhuma, mas um
rombo ora orçado em 50 bilhões de reais — inicialmente, seria de “apenas” 30
bilhões – ora atingindo 110 bilhões, caso o gasto a descoberto do ano passado,
as tais “pedaladas”, tenha que ser finalmente coberto ainda este ano. É pouco?
Não, mas o governo também errou, ou não falou a verdade, ao dizer que haveria
uma pequena recessão para controlar o ritmo de crescimento da taxa
inflacionária. O recuo na produção de riqueza no Brasil já bateu nos 2,8%, e os
economistas fora do Palácio do Planalto entendem que a recessão deve fechar o
ano acima dos 3 pontos.
Não
há um só economista, no governo ou fora dele, que não admita que no ano que vem
as coisas vão, na melhor das hipóteses, permanecer como estão. mas nem isso é
unanimidade entre os acadêmicos e profissionais do mercado. Na visão
pessimista, o pior da crise ainda não mostrou as caras.
Se
2015 representou o início dos piores problemas, cujos sintomas apareceram por
volta de 2008, 2009, não há nada a se esperar positivamente em 2016.
É
certo que a sensação de crise é maior por causa dos sucessivos escândalos
levantados nas Operações Lava Jato, principalmente, e Zelotes, mais
recentemente. Mas essa sensação não é abstrata. Ela se revela real no dia a dia
da população, que viu suas despesas cotidianas explodirem desde as compras no
supermercado até na luz e na água, que dispararam. E isso também pesa bastante
na queda da credibilidade do governo Dilma. Foi ela quem, há três anos, ocupou
rede nacional de rádio e TV para anunciar redução de 20% nas contas de energia.
Era uma medida absurda e fantasiosa porque não havia qualquer forma de redução
no custo de geração, transmissão e distribuição do setor. Isso criou um rombo
que desequilibrou todo o setor elétrico e a conta chegou para todos, para o
consumidor e para o próprio governo.
Há
unanimidade quanto a um aspecto nessa crise toda: não há como tirar o país
desse atoleiro monstruoso sem a força extra de impostos. O governo,
equivocadamente, insiste em recriar a famigerada e detestada CPMF, apesar de
perder sistematicamente votações muito menos polêmicas no Congresso. É teimosia
demais para votos de menos. O lado ruim desse “imposto” é que ele se reflete
imediatamente nas taxas de inflação. Para quem está numa “pitanga” danada, como
é o caso do governo, um pouco mais ou um pouco menos não vai fazer tanta
diferença assim no péssimo conjunto da obra da popularidade. E pode não haver
outra saída. E se não houver, o “feliz ano novo” poderá ser adiado para 2018.
Fonte de Pesquisa: Afonso Lopes.