A
crença de que o Brasil pára no começo do ano deixou de ser uma verdade absoluta
para se tornar mais uma desculpa no repertório daqueles que permanentemente
postergam para o futuro o que já deveriam ter feito há tempos. Ainda que as
pessoas procurem tirar alguns dias de férias no período, as empresas continuam
ativas e tocando seus projetos, cientes de que, em tempos globais e de acirrada
concorrência, um cochilo pode ocasionar sérios danos ao desempenho e à
competitividade.
Quem
se acomoda à perspectiva de que a vida no país só retoma seu curso regular após
o Carnaval perde um tempo precioso, ainda mais em um cenário de escassez de
oportunidades de trabalho e do “poço de lama” que se encontra o cenário
político, econômico do Brasil (sem falar na crise hídrica). Para aqueles que
estão com passe livre, em processo de transição de carreira, a tentação de
esmorecer nos primeiros meses do ano encontra campo fértil nas dificuldades
inerentes à prospecção de novas alternativas de trabalho e renda, um percurso
repleto de altos e baixos capazes de colocar à prova até os mais persistentes e
obstinados profissionais.
Encontrar
uma nova ocupação exige esforço concentrado e método. A procura deve ser
tratada como projeto especial indelegável, no qual é preciso atuar
conscientemente de forma a auxiliar nossa rede de relacionamentos a nos ajudar.
Posicionar-se como um provedor de solução, explicitar objetivos e detalhar
possíveis contribuições são atitudes que conferem maior assertividade ao
processo de busca, tornando viável uma colaboração mais efetiva por parte de
amigos e conhecidos.
Os
meses de janeiro e fevereiro mostram-se particularmente positivos para nutrir
os relacionamentos. Após saírem das festas de final de ano, quando impera um
clima mais amistoso, as pessoas estão mais abertas ao contato, dispostas a
falar de seus planos para o novo período. Quando isso acontece, automaticamente
se pavimenta o caminho para ouvir o outro, inteirando-se de seus projetos.
Deixar escapar esse momento, escudando-se na desculpa de que nada acontece
antes do Carnaval, representa um boicote contra si mesmo, sem falar em abrir
mão de informações relevantes sobre o planejamento das empresas em que nossos
conhecidos atuam e as perspectivas de negócios em seu segmento de mercado.
É
bom que se lembre: a semeadura do networking é permanente e não se restringe a
determinadas épocas do ano, nem aos profissionais em fase de transição. Todos,
independentemente de estarem atravessando uma situação profissional mais ou
menos favorável, têm de cuidar do capital social para preservar o patrimônio e
ampliá-lo. A relação é de reciprocidade e aqueles que assumem uma atitude
interesseira, acessando seus contatos apenas quando precisam, esgotam
rapidamente sua cota.
O
cotidiano atribulado não pode servir de anteparo para justificar a negligência
com o networking. Não há como persistir no círculo vicioso de, ao obter trabalho,
mergulhar nos afazeres de tal modo a ficar indisponível para dar e receber
ajuda, proteção, solidariedade, confiança. Pois é exatamente isso que a rede
propicia, um ambiente seguro, onde as trocas devem ocorrer natural e
desinteressadamente, ou melhor, a partir de um interesse genuíno para com o
outro. Como a reciprocidade é o fio condutor, não é difícil imaginar que,
quanto maior a atenção e o zelo dedicados aos contatos, mais robusta se torna a
rede, proporcionando um respaldo de grande valia.
Quem
tem networking amplia o número de olhos, ouvidos e bocas em favor de seu
projeto de carreira, o que é particularmente importante para os que estão em
fase de recolocação profissional por terem sido desligados de suas empresas.
Como o tempo de permanência nas organizações é cada vez menor, os processos de
transição tendem a ser mais frequentes. As transformações no mundo dos negócios
são constantes e a história recente mostra que até mesmo grandes corporações
podem sofrer processos de fusão capazes de modificar totalmente uma realidade
tida como permanente e imutável.
Aproveite
o restante do verão. Cuide da saúde, invista no lazer, aproveite os momentos
familiares. Não descuide, no entanto, de seu projeto de carreira. O tempo não
pára e as armadilhas que armamos para nós mesmos são cruéis e, cedo ou tarde,
cobram seu preço.
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