Toda
crise, não importa a natureza, quase sempre é mais humana que material, mais
psicológica que real porque nasce, de alguma forma, do confronto dos valores
humanos. Se há algum tipo de crise, em algum lugar, o ser humano falhou.
Então,
não há como separar dela o homem e suas contradições. Quando uma crise chega
numa organização, antes de fazer estragos nos balanços, afeta, primeiramente,
os seus talentos podendo ter desfecho trágico.
Poucos
têm a real dimensão de como ela abala a estrutura psicológica e como o medo que
traz paralisa a inteligência das pessoas. Estudiosos da mente sempre alertam
para os efeitos perversos do pânico, da depressão, da apatia e da corrente da
má notícia.
Os
consultórios psiquiátricos e psicológicos vivem abarrotados de gente, incluindo
trabalhadores e empresários que buscam na terapia e nos psicotrópicos a
segurança que o ambiente de negócios e o do trabalho não estão lhes
proporcionando.
O
empregador não dorme mais pensando na ameaça aos lucros, e o empregado tem pesadelos
com o fantasma do desemprego. O empresário teme a falência; e o trabalhador, a
ameaça do facão.
Os
dois sabem da dependência um do outro para dar resultados, mas num momento em
que só se fala em crise, o medo e o suspense falam mais altos. No desespero
empresarial, a ordem é cortar custos, e a primeira conta é a folha de
pagamento. Entretanto, sem gente motivada não há criatividade, não há
encantamento de clientes, não há argumento de vendas, e o negócio pode morrer
de inanição. Abrir mão de bons talentos é burrice porque, além dos custos
financeiros e emocionais, pode comprometer o futuro quando a crise passar.
Uma
boa capacidade de gerir pessoas é o ponto chave neste momento. Começa pelas
lideranças. O presidente da empresa em vez de fazer ameaças deve demonstrar que
é destemido, mesmo que as escondidas esteja acendendo velas para o santo.
Às
lideranças gerenciais compete, prioritariamente, monitorar o clima
organizacional agindo para criar positividade, que começa com os dirigentes
sendo transparentes e não economizando na comunicação.
É
importante conversar com as pessoas mostrando a realidade, dando
direcionamento, desafiando a criatividade, pedindo adesão e destacando os
pontos fortes que a organização tem para enfrentar a tempestade. Nada de ficar
aos berros ou bancando os "nervosinhos". Pessoas amedrontadas,
sabidamente, não produzem.
Demissões
devem ser o último recurso e não o primeiro. Antes, é preciso verificar que
processos e excessos podem ser eliminados. Ao cortar despesas não se deve
confundir austeridade com mesquinharia. Na agenda deve estar o desafio de como
motivar as pessoas para transformar a empresa numa organização mais ágil, com
maior qualidade e imbatível na oferta dos seus produtos.
É
momento de ter cuidado no trato com as emoções para não ter uma empresa cheia de
gente doente. É importante usar as emoções de forma inteligente aproveitando os
efeitos positivos da intuição, da empatia, da compaixão e outros sentimentos.
Mais
do que nunca, é tempo de empregados e empregadores darem as mãos e usar a força
dos vários tipos de inteligência de que são dotados. Se, depois de todo esse
esforço, nada disso valer, podem assentar e chorar. Mas, só por alguns
instantes.
Fonte: Cícero
Domingos Penha.